Ditadura, Democracia e Resistência para Quem

Provocação do quarto debate: “Arte como Guerrilha?”

 

“Ditadura, Democracia e Resistência para Quem

Sábados de Outubro, às 14:00.


29/10 – Teatro da Universidade de São Paulo – TUSP

Rua Maria Antônia, 294 – Vila Buarque – Sâo Paulo – SP

 

 

 

“Arte como Guerrilha?”

Vladimir Safatle – professor livre-docente de filosofia da USP

Maria Tendlau – diretora de teatro, professora e curadora do Centro Cultural São Paulo

Jaime Ginzburg – professor livre-docente de Literatura Brasileira da USP e integrante do NEV (Núcleo de Estudos da Violência da USP)

João Godoy – cineasta, diretor do documentário “Vala Comum” (1994) e professor assistente da Escola de Comunicações e Artes da USP

Mediador: Eduardo Socha – doutorando em Filosofia (USP)

* Tendo em vista que o TUSP precisa do teatro liberado às 17h30, iniciaremos a sessão de debates impreterivelmente 

às 14h.


Todos os debates da série “Ditadura, Democracia e resistência para Quem” contam com uma provocação direcionada aos palestrantes, de autoria de Quem. A relativa ao quarto dia é o artigo que segue abaixo.



ARTE COMO GUERRILHA ? 

A instauração de regimes de exceção na América Latina provocou uma série de manifestações artísticas de oposição às ditaduras e de crítica à chamada “arte de museu”, considerada ideologicamente comprometida com os interesses das classes dominantes. A proposta era fazer a arte circular, invadindo espaços, passando de mão em mão, subvertendo os padrões estéticos e políticos consoantes à ordem estabelecida.

Em 1975, cédulas de Cruzeiro veiculavam a pergunta “Quem matou Herzorg?”. Tratava-se do projeto “Inserções em circuitos ideológicos” do artista Cildo Meireles. No início de 2011, o coletivo Quem pôs em circulação cédulas de Real que questionavam “Quem torturou Dilma Rousseff ?”. Foi o início de um trabalho de resgate, atualização e reconfiguração de manifestações artísticas de resistência às ditaduras latino-americanas.

Mas Quem sabe que a tensa articulação entre arte e política certamente excede o debate, hoje talvez datado, entre a arte engajada, combativa, instrumentalizada para a difusão de mensagens políticas concretas, e a dita arte autônoma, preocupada com o desdobramento formal interno de suas linguagens específicas. Tal articulação também não pode ser reduzida à mera “estetização da política”, ao espetáculo de fascínio montado para as massas que Benjamin já identificava nas estratégias da propaganda fascista e que significava nada menos do que a liquidação da dimensão política.

Se, entre as funções da arte, caberia portanto aquela de produzir imagens a fim de desestabilizar algumas das práticas sociais em curso, Quem pergunta sobre o papel que a arte desempenhou e ainda pode desempenhar em nosso imaginário social ligado à realidade brasileira após o golpe de 1964. Dessa questão, emanam outras: como dar conta de representações estéticas à altura do sofrimento provocado pelas violações sistemáticas aos direitos humanos na história recente do país, cuja cultura repressiva e de impunidade ainda se faz visível nas diferentes esferas de atuação social? Como romper o circuito criado por setores da indústria cultural brasileira que visam mitigar o campo imagético e simbólico desse período, influenciando diretamente nossa percepção política do presente? Para além das discussões sobre arte engajada ou arte autônoma, as obras de arte poderiam, afinal, atuar como dispositivos críticos no sentido de resguardar nosso direito à memória e consequentemente de transformar o ainda vacilante “processo de consolidação democrática no Brasil”? No pólo oposto ao da “estetização da política”, Quem quer saber se ainda é possível apostarmos em uma genuína e democrática “politização da arte”.

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